
Ana Carolina Gama.
30/04/2025
Cultura de segurança e IA: Por que o GRC deve liderar a construção de ambientes de trabalho responsáveis
A inteligência artificial já não é uma promessa futura, mas uma presença concreta e crescente no dia a dia das empresas. Um levantamento global recente, realizado com mais de 32 mil colaboradores de 47 países, revela que 58% dos profissionais já utilizam ferramentas de IA no trabalho, sendo que um terço deles faz isso com frequência diária ou semanal.
Os ganhos são reais. Eficiência, agilidade, inovação e melhoria na qualidade das entregas são os principais pontos destacados por quem já integrou a IA em suas rotinas. Mas junto com os benefícios, surgem também alertas importantes, especialmente quando falamos sobre segurança, compliance e responsabilidade corporativa. O GRC (Governança, Riscos e Compliance) precisa assumir o protagonismo nesse momento.
Fonte: The Conversation.
A oportunidade e o risco caminham juntos
A facilidade de uso e o acesso gratuito a plataformas como ChatGPT tornaram a IA uma ferramenta comum, inclusive entre colaboradores que não fazem parte de áreas técnicas. No entanto, o estudo mostra que quase metade dos usuários (47%) já utilizou IA de forma inadequada. Mais preocupante ainda: 48% afirmaram ter inserido informações sensíveis nos sistemas, como dados financeiros ou de clientes, e 44% admitiram ter violado regras internas da empresa nesse processo.
Essas ações, muitas vezes motivadas por falta de conhecimento ou diretrizes claras, já causaram prejuízos significativos em diferentes setores. Falhas operacionais, exposições de dados e danos reputacionais são apenas algumas das consequências observadas.
A ausência de políticas acelera o problema
O uso invisível de IA, aquele que não é declarado nem monitorado, se tornou comum. 61% dos profissionais não revelam quando utilizam a tecnologia. Mais da metade (55%) apresenta conteúdos gerados por IA como se fossem autorais, e dois terços sequer sabem se o uso é permitido em suas organizações.
Em outras palavras, o risco está sendo amplificado de forma silenciosa e contínua, alimentado pela ausência de governança.
Apenas 34% das empresas têm políticas claras sobre o uso de IA. E só 6% baniram formalmente as ferramentas generativas, o que indica um grande vácuo regulatório interno. Enquanto isso, a pressão por adoção só cresce. 50% dos colaboradores temem ficar para trás caso não comecem a usar IA agora.
O papel do GRC na construção de ambientes seguros
Os desafios que envolvem a IA não dizem respeito apenas à tecnologia, mas à forma como ela impacta processos, pessoas e responsabilidades.
Desenvolver políticas claras, implementar controles de segurança, revisar as práticas de uso e capacitar as equipes são apenas os primeiros passos. A inteligência artificial precisa ser incorporada à cultura da empresa com critérios, responsabilidade e governança, o que inclui:
- Mapeamento dos riscos específicos da IA nos processos de negócio.
- Revisão das políticas de segurança da informação, privacidade e ética.
- Capacitação contínua sobre uso seguro e crítico das ferramentas.
- Adoção de soluções que possibilitem rastreabilidade, controle e evidência do uso.
- Desenvolvimento de uma cultura de transparência e aprendizado constante.
Inteligência aplicada e segurança podem caminhar juntas
Organizações que investem em literacia digital e desenvolvem ambientes psicologicamente seguros tendem a colher benefícios mais consistentes da adoção da IA. Não se trata apenas de evitar riscos, mas de criar uma base sólida para a inovação sustentável.
Segundo os dados da pesquisa, profissionais com maior familiaridade com as ferramentas e que passaram por treinamentos formais tendem a verificar melhor os resultados da IA, entender seus limites e, por consequência, alcançar melhores resultados. No entanto, apenas 47% dos respondentes dizem ter recebido algum tipo de treinamento.
Isso demonstra o tamanho da oportunidade que as áreas de GRC têm em mãos. Mais do que fiscalizar, elas devem liderar a mudança.
A IA já transformou a forma como trabalhamos, agora, o próximo passo é garantir que essa transformação aconteça com responsabilidade e visão de longo prazo. Isso só será possível com o GRC no centro da estratégia, apoiando a liderança e empoderando os colaboradores com diretrizes claras, capacitação técnica e ferramentas adequadas.
Se sua organização ainda não estruturou uma política robusta de uso de IA, o momento é agora.
A segurança da informação e a integridade dos dados corporativos dependem de ações concretas e de um ambiente onde a transparência seja incentivada, não punida. O futuro da IA no trabalho é promissor, desde que seja governado com inteligência.